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876.º aniversário da Independência de Portugal

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Comemorou-se no Castelo de S. Jorge, em Lisboa, com a presença do Presidente da Liga dos Combatentes, Tenente-general Joaquim Chito Rodrigues, mais um aniversário da Independência de Portugal. Em 5 de Outubro de 1143, há precisamente 876 anos, o Rei Afonso VII de Leão e Castela reconheceu o antigo Condado Portucalense como reino independente e Dom Afonso Henriques como rei. Neste dia nasceu Portugal.
Discurso proferido pelo Presidente da Liga dos Combatentes, Tenente-general Joaquim Chito Rodrigues:

 

A INDEPENDÊNCIA DE PORTUGAL E AS FORÇAS ARMADAS
Exmo. Senhor Presidente da Comissão Organizadora
Exmos. Senhores membros da Comissão Organizadora
 
Minhas Senhoras e meus Senhores
Hoje é dia de reflexão para as eleições de amanhã. Não vou por isso fazer nenhum discurso. Vou fazer algumas e rápidas reflexões sobre o tema que me foi proposto: A independência de Portugal e as Forças Armadas. Muito obrigado pelo convite.
Evocam-se hoje 876 anos da independência de Portugal. Da conquista à independência. Da soberania à expansão. Da Europa para o mundo e do mundo para uma nova Europa.
Fases da história multissecular de um povo e de um país a beira-mar plantado…no dizer do poeta. História de sangue, suor e lágrimas no dizer de outro pensador. Mas sempre “heróis do mar, nobre povo, Nação valente…”.
Em todas as fases da História de Portugal a espada acompanhou sempre o diálogo terreno ou transcendente. D. Afonso Henriques com a espada na mão, em diálogo com S. Miguel Arcanjo, garantiu a nossa independência. D. Nuno Álvares Pereira, o militar e combatente condestável do reino, hoje Santo, ajoelha em Aljubarrota e, de armas na mão, impede que essa independência se perca.
Na grande guerra, o Cristo das Trincheiras é testemunha da valentia e sacrifício dos militares do Corpo Expedicionário Português (CEP). Em Maio de 1917 surge Fátima a acompanhar essas forças portuguesas, na partida para o primeiro conflito de nível mundial. Na guerra do ultramar, as forças portuguesas espalharam por África apoio às populações e guerra a quem lhes fazia a guerra, quantas vezes acompanhadas de um Cristo do Capim.
Exemplos aleatórios da construção histórica de um país que se formou, viveu e vive com a determinação e valentia dos seus homens de armas, com o saber dos seus diplomatas e, porque não, com a fé permanente no seu destino.
Uma análise rápida da História de Portugal permite-nos afirmar que não houve século algum da história de Portugal em que as Forças Armadas não tivessem que actuar na defesa dos interesses superiores do país, de armas na mão, garantindo a sua independência. Com vitórias e derrotas, sucessos e insucessos, mas sempre tendo como resultante final a sobrevivência de uma Nação. Hoje com as fronteiras mais antigas da Europa.
Com D. Afonso Henriques no século XII na conquista do território nacional. Os seus sucessores no séc. XIII e XIV que, com os combatentes e a criação de um carácter nacional, conduziram à garantia da independência.
No XV nas diversas guerras com Castela e no domínio dos mares.
No séc. XVI fazendo frente a invasão de Portugal pela Espanha e em confrontos em diferentes partes do mundo.
No séc. XVII nas guerras de Restauração com a Espanha, na Índia, no Brasil e com a Holanda em diversos cantos do mundo.
No séc. XVIII nas guerras com Espanha, Índia e África.
No séc. XIX fazendo frente a três invasões francesas e uma guerra civil.
Finalmente no séc. XX na I guerra Mundial e na guerra do Ultramar.
É centenária, mas marcante, a incontornável afirmação de um militar ilustre, de que Portugal é obra de Soldados. De facto, esses homens fardados, têm feito milagres. Mas é um erro grave, criarem-se condições e acreditar que serão esses milagres a garantir a sobrevivência do país. Foram essas crenças políticas que arrastaram normalmente o país para difíceis e sobressaltados momentos ao longo da sua história, depois de às suas Forças Armadas serem atribuídas missões de sucesso impossível, com os meios que lhe foram postos a disposição. Meios humanos e meios materiais. As Forças Armadas de um qualquer país, qualquer que seja o território a vigiar, manter a segurança ou defender, articulam-se em meios operacionais e logísticos.
Por sua vez a articulação dos meios operacionais exige desde o tempo de paz, forças de quadrícula e forças de intervenção, chamadas reserva dos Altos Comandos, com os quais o Comandante-chefe intervém e influência a manobra. Quando um país abdica da quadrícula ou acaba por substitui-la por meios pouco adequados e emprega as forças altamente especializadas, que deveriam ser as forças de reserva do Alto Comando, em missões de quadrícula e de segurança no apoio às populações, para além de desqualificar as forças especiais, desarticula por completo as Forças Armadas, ficando estas impossibilidades de se oporem coerente sustentadamente a quaisquer ameaças. A garantia da independência tem várias ópticas e pode perder-se sem que as FA possam ou tenham tempo de intervir ou de a garantir. Mas quando perante uma ameaça externa, for necessário empregar as FA e os meios que houver para dispor, forem apenas forças especiais, a situação torna-se cara e rapidamente insustentável em meios humanos, financeiros e operacionais. A independência desse país estará em causa.
Minhas senhoras e meus senhores
O mar foi o nosso destino e o mundo a nossa geografia humana. Aí criámos impérios geográficos de relações humanas invejáveis. Empenhámos meios humanos e financeiros significativos com resultados altamente positivos, para a posição de Portugal no mundo. Hoje, regressados à Europa que sempre nos hostilizou e às fronteiras naturais de D. Diniz, Portugal, continua a manter o seu Império da Alma a nível global.
É esse Império da Alma, de profunda portugalidade, constituído por portugueses e portuguesas espalhados pelo mundo, que uma vez estimulado, acarinhado e organizado, em rede, será um factor estratégico equilibrador e potencializador do nosso peso específico numa nova Europa que nos acolhe, mas nos exige. Não haverá Portugal sem portugueses, nem Portugal sem Forças Armadas. A abolição destas ou mesmo a sua redução drástica, seria a abolição da História de um povo e de uma Nação e o nascer de algo novo sem futuro e de destino marcado. Sem armas e sem homens para travar batalhas decisivas a ameaça seria real e permanente.
Batalhas decisivas como as travadas por D Afonso Henriques na conquista do território. D Diniz na conquista do Algarve. D. João I e Nuno Álvares Pereira em Aljubarrota. Pela negativa D. Sebastião em Alcácer Quibir. Pela positiva com os conjurados e nas batalhas da Restauração, bem como os portugueses e ingleses nas batalhas face às Invasões francesas.
Todos os momentos mencionados moldaram decisivamente a História de Portugal. Também nós pertencemos a uma geração que durante 21 anos, de 1954, data das primeiras baixas na Índia, até 1975 em África, conduziu uma das batalhas mais decisivas da nossa História, empenhando cerca de um milhão de homens num conflito armado cujo desfecho final mudou para sempre e decisivamente a História de Portugal.
As gerações e seus responsáveis que não respeitarem a Historia apressam a máxima de Toynbee quando afirma que as Nações nascem, crescem e morrem. Portugal recusa -se morrer. E algumas vezes ao longo da sua História renasceu das cinzas.
Hoje, portanto, dia em que junto ao monumento a D. Afonso Henriques, no Castelo de S. Jorge, se evoca da História, a independência de Portugal, terá que ser um dia de evocação positiva dessa História e da evolução positiva de um país e de um povo que em democracia e em liberdade, saberá sempre escolher ou conquistar o seu destino.
Viva Portugal!
Lisboa, 5 de Outubro de 2019

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