Todos os anos a Liga dos Combatentes celebra o “Dia do Combatente”, na Batalha, e este ano não foi exceção. Todavia, face à vicissitude histórica (e épica) da COVID 19, em 2020 as comemorações não se realizaram na Batalha, ficando à consideração dos Núcleos o modelo a efetuar, deixando alguma amargura aos combatentes, por não poderem prestar homenagem condignamente, a todos os que já partiram, e confraternizar com os que ainda vivem e serviram Portugal em situações por vezes extremas, pondo em risco a própria vida em prol dos desígnios da Nação.
Visto que a pandemia ainda está para ficar, mas a vida não para, este ano a Direção Central da Liga, além da realização de uma cerimónia na Batalha, com menos participantes do que o habitual, desafiou os Núcleos a fazerem cerimónias parcelares, de forma a não deixar passar a efeméride levianamente. Na Batalha, Sua Exª o Presidente da República agraciou a Liga com a mais alta condecoração portuguesa – a Torre e Espada, Valor, Lealdade e Mérito, ato que muito nos honra.
Cientes da relevância das comemorações, o Núcelo das Caldas da Rainha da Liga dos Combatentes, nestas lides desde 1924, aceitou o desafio, enviou uma delegação à cerimónia da Batalha e efetuou uma cerimónia reservada, descentralizada, nas Caldas da Rainha, no centro da cidade, em frente a um monumento que existe deste 2008, por iniciativa de um grupo de entusiastas, mas que poucos conhecem a sua existência e muito menos a sua origem e significado.
Do conhecimento do Núcleo das Caldas, existem cinco monumentos no Concelho em honra aos combatentes, a saber: o monumento da Escola de Sargentos do Exército, que faz referência aos combatentes da Grande Guerra e da Guerra Colonial; o monumento da avenida General Pedro Cardoso, nas Caldas; o monumento de Alvorninha e o monumento de Santa Catarina, que fazem referência aos Combatentes da Guerra Colonial; e por fim, o monumento em honra aos nove fuzilados do Burlão, durante a Guerra Peninsular, nas Caldas.
Este ano, foi em frente a esse monumento que tiveram lugar as cerimónias do Dia do Combatente, dando alguns passos atrás na história de Portugal, para o início do Século XIX, quando esse conflito afetou o nosso país e a região do Oeste, onde se situam as Caldas da Rainha e Torres Vedras, entre outras cidades relevantes no contexto.
Assim sendo, deu-se realce aos combatentes em frente ao memorial edificado em homenagem aos nove fuzilados no Burlão, a 9 de Fevereiro de 1808, por ordens do general Loison (conhecido entre nós por “o Maneta”). Reza a história que três caldenses e seis militares do Regimento de Infantaria 18, à data aquartelado nas Caldas da Rainha, nada mais fizeram do que tentar defender a honra de uma caldense que tinha sido assediada por dois soldados franceses. Esse ato de bravura, levou a que fossem condenadas quinze pessoas, presas dez e fuziladas nove, bem como à humilhação e extinção temporária do distinto Regimento de Infantaria 18, sem honras nem glórias.
Com a singela cerimónia, prestou-se tributo aos 9 fuzilados, aos combatentes, e evocaram-se as cerca de 200 mil vítimas da Guerra Peninsular, entre as quais se contam portugueses, ingleses, franceses, espanhóis e outros que faziam parte das forças contendoras. Foi colocada uma coroa de flores, fez-se um minuto de silêncio e seguiram-se breves palavras por parte do Presidente do Núcleo e do Presidente da Câmara das Caldas da Rainha.
Para que fosse possível realizar a cerimónia foi necessário solicitar autorização formal ao Delegado de Saúde da região, indicando onde e como se realizaria, bem como os intervenientes. Estiveram presentes na cerimónia três elementos da Direção do Núcleo das Caldas, o Presidente da Câmara, Dr Tinta Ferreira e um alto funcionário da Câmara; o Comandante da Escola de Sargentos do Exército, Cor Cav José Luís Simões e o Adjunto, SMor Inf Oliveira e Silva; um jornalista da Gazeta das Caldas e uma jornalista do Jornal das Caldas, bem como alguns transeuntes que se foram surpreendendo com o evento.
Na semana seguinte os jornalistas convidados publicaram artigos na comunicação social relativos ao evento, que permitiram dar mais visibilidade às comemorações, que não tinham sido publicitadas préviamente para evitar a algomeração de pessoas, bem como dar a conhecer o monumento, que apesar de estar numa zona central da cidade e muito bem visivel, tem estado despresado por não haverem eventos que o valorizem e por as letras gravadas na base não serem visíveis, impossibilitando a sua identificação.
É convicção da Direção do Núcleo das Caldas da Rainha que tão importante como erigir monumentos, é contribuir para a manutenção dos monumentos existentes e para o seu conhecimento e valorização, porque fazer obra nova é relativamente fácil, o verdadeiro desafio é a sua sustentabilidade, principalmente quando quem a edificou já não está estre nós. Assim sendo, continuaremos a realizar as cerimónias alternadamente nos monumentos existentes no Concelho, paras os valorizarmos e darmos a conhecer.

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